Iniciamos hoje nossa série de artigos sobre os antigos carnavais lagartenses. Textos nostálgicos e causos da nossa cultura ilustram um passado de memória viva e rica. O primeiro texto da série nesse período carnavalesco é do escritor Floriano Fonseca.
Velhos Carnavais*
Por Floriano Fonseca**
Nada de micaretas e axé music, quem comandava o carnaval era o frevo pernambucano. Os dias que antecediam o carnaval era tempo de prender uma lata e um cordão de caroá untado em breu ao cubo da bicicleta e sair fazendo zoada pela cidade.
Muitas vezes dezenas de garotos se reuniam e saiam pelas ruas. Máscaras, lanças d’água, tinta e pó completavam a festa. Para os menores abastados, no domingo e terça-feira à tarde havia o baile infantil.
Durante o dia, os bares ficavam cheios, fobicas e charangas desfilando pelas ruas. As mocinhas correndo de cá para lá, fazendo de conta que não queriam se sujar, mas na verdade buscavam que algum galanteador lambe-sujo chegasse perto e um novo casal estaria arrumado para o baile de logo à noite.
Ao som dos clarins a banda de frevo anunciava o início do baile. A Atlética era pequena, mas dava para a reduzida sociedade lagartense. Seu Bazinho Almeida e Seu Santinho Machado prendiam uma pequena toalha ao pescoço e, no passo de ganso, passavam toda à noite a circular o salão.
Quando a manhã da quarta-feira de cinzas teimava em chegar, era a hora da despedida, e todos saiam pelas ruas cantando o “tá chegando a hora”.
Houve um ano em que todos os rapazes usaram macacões de frentistas de postos de gasolina, que mais parecia um baile operário. Aos poucos, a influência da música baiana foi chegando e anunciando o nascimento do trio elétrico.
Fotos: acervo pessoal de Rinaldo Prata, Rivaldo Fonseca e Antônio Almeida Rocha
*Fonte: LagartoNet.com
**Floriano Fonseca é historiador e escritor lagartense