Diferentemente do que aconteceu com os ativos da Vale Fertilizantes, não deverá haver disputa pelas fábricas da Petrobras no segmento. Segundo especialistas, faltam interessados nas unidades, voltadas à produção de nutrientes derivados do nitrogênio, e, se a estatal quiser de fato vendê-los, terá de oferecer “um negócio da China”. São três plantas em operação, localizadas no Paraná, na Bahia e em Sergipe e avaliadas no mercado em quase US$ 1,5 bilhão, e uma em construção em Mato Grosso do Sul, que custa US$ 700 milhões.
A falta de interessados em levar os ativos tem relação com problemas operacionais e políticos. O fato é que, mesmo com poucos ativos de produção disponíveis no mercado, não haverá uma “disputa” entre grandes players pelas fábricas. É quase consenso que a norueguesa Yara, uma das maiores empresas de fertilizantes do mundo e líder no ranking brasileiro, com cerca de 25% de participação em vendas de produtos finais, é a favorita para ficar com pelo menos uma das quatro unidades. Globalmente, a produção de nitrogenados é o maior negócio da multinacional.
E a Yara já demonstrou interesse pelos ativos. Em entrevista ao Valor em novembro de 2017, Lair Hanzen, vice-presidente executivo da Yara International e presidente da Yara Brasil, admitiu que a empresa poderia avaliá-los. “Mas tudo tem que ter uma lógica econômica. A Yara não vai perder dinheiro”, lembrou Marcelo Mello, analista da INTL FCStone. Para ele, a falta de competitividade das unidades de Laranjeiras (SE) e Camaçari (BA) e os problemas operacionais em Araucária (PR) são apenas parte dos empecilhos para que a Petrobras consiga fechar uma boa venda.
“As unidades da Laranjeiras e Camaçari são muito ineficientes”, disse Mello. Segundo o analista, plantas de adubo que produzem menos de 1 milhão de tonelada por ano não são competitivas. Em conjunto, Sergipe e Bahia têm capacidade instalada para 900 mil toneladas de amônia e 1,1 milhão de toneladas de ureia por ano. Em março, a Petrobras chegou a anunciar que iniciaria a “hibernação” (parada progressiva da produção) de ambas em 30 de junho, com ações para conservar equipamentos e prevenir impactos ambientais.
Posteriormente, porém, a estatal adiou por quatro meses o início da hibernação, após congressistas dos dois Estados pressionarem a empresa em busca de uma solução alternativa. De acordo com a Petrobras, as plantas apresentam resultados negativos conjuntos de aproximadamente R$ 800 milhões por ano, e o cenário de longo prazo continua apontando para perdas.
A questão deu pano para manga. A Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) divulgou comunicado destacando que, sem a produção de adubo dessas unidades, o país dependerá ainda mais de importações. “A elevada dependência por importações deixa o país vulnerável às flutuações do câmbio e dos preços, trazendo também algum risco relacionado a eventual escassez de insumos básicos”, afirmou a entidade.