No ano de 2012, Anderson estudava Direito em uma faculdade particular na cidade de Fortaleza (CE), onde passou por dificuldade financeira para pagar a mensalidade de R$ 1000, na época, a mais barata que havia encontrado no Nordeste, mas foi obrigado a trancar o curso no quinto período.
“Para não ficar parado, acabei fazendo um curso de segurança do trabalho pagando a mensalidade de R$ 130. Com o diploma de técnico, voltei a morar em Salvador e trabalhava na empresa do meu pai, também com prestação de serviços. Ocorreram algumas divergências de opiniões e decidi trabalhar por conta própria. Montei uma empresa, no mesmo ramo, e por causa de problemas com meu sócio, decidi sair da sociedade”, conta.
Em outubro do ano passado, Anderson foi morar em Aracaju para ficar mais próximo da namorada. Dois meses depois, montou a empresa de faxina, onde é o dono e o único funcionário.
“Criei a logomarca, faço as publicações nas redes sociais e a faxina. A empresa existe desde 14 de dezembro de 2017. Cobro para uma limpeza de um apartamento de até 70m2 o valor de R$ 60”, explica.
Semanalmente ele presta serviço em um laboratório e em uma residência de um senhor no Bairro São José, além de atender aos chamados extras que chegam pelo telefone. A renda fixa chega a R$ 700/mês e com o dinheiro consegue pagar contas de água, luz, alimentação, transporte e o aluguel de R$ 350. O que sobra junta para voltar a cursar direito.
Apoio da namorada
Para conseguir sobreviver na capital de Sergipe, recebe a ajuda financeira da namorada, a biomédica Laís Mota Coelho Silva, também baiana que chegou na cidade há cerca de 10 anos.
Ela conta que quando o namorado resolveu mudar para Sergipe achou uma decisão precipitada, mas percebeu que ao abrir o negócio foi desenrolando bem. “Em janeiro os chamados começaram a cair, mas dava para pagar as contas. Em fevereiro foi mais fraco e tive que entrar com a ajuda financeira. Muitas vezes, Anderson ia fazer o trabalho e, como não estava incluído o almoço, ficava o dia inteiro com fome”, conta.
Laís lembra que também já foi faxinar junto com o namorado para orientá-lo na limpeza, devido ao grau de exigência dos clientes. “Sempre percebi um empenho muito grande dele para voltar à faculdade. Ele corre atrás e batalha muito. Não tinha como ficar de fora disso. Sei que Anderson vai além do sonho e vai passar em um concurso público”, afirma.
Preconceito
Anderson conta que muitas vezes é recebido com surpresa pelos clientes, ao descobrirem que o trabalho vai ser feito por ele. “O fato de ser homem, muitas vezes, em uma casa que só tem uma, duas mulheres, dificulta a me inserir de vez no mercado. Até entendo que há uma desconfiança em relação aos casos de violência”, observa.
Da família e amigos recebe muito incentivo. “Sou meio que um espelho para meus irmãos [Tenho três irmãos por parte de mãe e dois por parte de pai. Sou o mais velho]. Não recebo crítica por fazer as faxinas, pois eles sabem que quero voltar à faculdade”, pontua.