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O acerto de Trump no Fed

trump

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acertou na decisão mais importante que tomou até agora no governo: a escolha do novo presidente do Fed, o Banco Central americano. Demonstrou sanidade supreendente ao indicar Jerome Powell para substituir em fevereiro a atual presidente, Janet Yellen.

A presidência do Fed é considerada o segundo cargo mais poderoso no governo americano. A história mostra que, quando o populismo toma conta dessa posição, a economia mundial paga um preço caríssimo. A inflação dos anos 1970, a depressão dos anos 1930 e as bolhas especulativas nos anos 1990 e 2000 resultam em grande medida de decisões erradas do Fed.

Com ativos que saltaram de US$ 870 bilhões para US$ 4,46 trilhões depois da crise de 2008, o Fed não é um tamborete de bar ou mocho de jardim. Trata-se da instituição mais importante não apenas para a saúde da economia americana, mas de toda a economia global. Mudanças na política de juros do Fed costumam provocar terrremoto cambial em todo o planeta – inclusive no Brasil.

As reuniões do Federal Open Market Committee (Fomc), que determinam a trajetória dos juros pagos pelos ativos, e pronunciamentos dos presidentes do Fed são acompanhadas com ansiedade, apreensão e angústia no mercado financeiro. Estabelecer os juros dá ao Fed um poder sem paralelo de conduzir o ritmo econômico.

Ao contrário do que o ocorre no Brasil, a independência do presidente e dos conselheiros (directors) do Fed é garantida por lei nos Estados Unidos. Diferentemente também do que acontece aqui, lá o presidente tem um mandato duplo: manter baixa inflação e baixo desemprego.

A gestão de Yellen teve um sucesso extraordinário em ambas as missões. Em 2014, ela sucedeu Ben Bernanke (a quem coubera debelar a crise criada por seu antecessor, Alan Greenspan) e manteve a criação de empregos numa trajetória impressionante. Ao todo, desde 2010, mais de 16 milhões de postos de trabalho foram criados nos Estados Unidos, enquanto a inflação ficou estável, em torno de 1%.

Até semanas atrás, havia expectativa de que Trump a mantivesse no cargo. Mas ele a atacara ferozmente durante a campanha eleitoral. No discurso populista, Yellen era vista como responsável por agradar os banqueiros e pela degradação econômica nas áreas industriais onde recebia o maior apoio do eleitorado. Uma vez no poder, Trump só teceu elogios ao trabalho dela. Mas era inviável mantê-la.

A escolha do sucessor seguiu os passos de um reality show, com o suspense e os tuítes a que o americano tem se habituado. Dois candidatos, John Taylor e Kevin Warsh, eram críticos severos da política monetária de Yellen. Taylor – criador da célebre regra de Taylor para combate à inflação (leia aqui um resumo do debate de fronteira na política monetária contemporânea) – assinara em 2010 um manifesto com 23 outros economistas atacando a política adotada por Yellen.

Para estimular a economia, o Fed misturou, no mandato dela, a manutenção dos juros baixos à injeção de dinheiro no mercado por meio da compra de papeis, mecanismo conhecido como “afrouxamento quantitativo” (em inglês, “quantitative easing”, ou QE – pronuncia-se “kiwi”, como a ave neozelandesa).

Apenas recentemente o Fed deu início à trajetória de alta moderada nos juros, diante do aquecimento econômico e da disparada dos ativos financeiros em Wall Street. Um dos maiores mistérios que Powell deverá enfrentar é a persistência da inflação baixa, apesar da retomada.

Tanto Yellen como Bernanke eram acadêmicos com profundo conhecimento de teoria econômica. Powell não. É um advogado que fez carreira e enriqueceu no mercado financeiro (foi do Carlyle Group). Republicano, foi nomeado conselheiro do Fed por Barack Obama em 2012, graças a sua atuação no Bipartisan Policy Center, essencial para o Congresso evitar o fechamento do governo em 2011.

Com seu estilo discreto e negociador, Powell é um operador de bastidores. Na ocasião, convenceu os parlamentares de seu partido de que seria pior para o país se o teto da dívida pública não fosse ampliado e se o governo entrasse em default. Como vinha de Wall Street e seus argumentos eram irrefutáveis, a iniciativa bipartidária prosperou.

 

No Conselho do Fed, sempre apoiou Yellen em todas as votações, enquanto estudava a fundo as minúcias da política monetária e do funcionamento do sistema financeiro. Embora não tenha a mesma reputação acadêmica de Yellen ou Bernanke, a dedicação foi suficiente para preencher as lacunas em seu preparo.

Powell é visto como um candidato de continuidade, a melhor mudança que Trump poderia fazer se não quisesse mudar nada na política monetária. Também é visto como mais tolerante em relação à regulação dos bancos e, por isso mesmo, aplaudido em Wall Street.

Apesar dessa fama, já demonstrou desconforto com a iniciativa de desregulamentação adotada pelo governo Trump. “Um saco misturado”, disse em declaração no Comitê de Bancos do Senado. “Algumas ideias fazem sentido. Outras eu não apoiaria.”

Seu perfil deverá garantir uma aprovação tranquila no Senado (nos dois mandatos de conselheiro, em 2012 e 2014, obteve, respectivamente, 74 e 67 votos dos 100 senadores). Mas isso não lhe assegurará, por si só, uma gestão tranquila.

“Decisões de política monetária importam para as famílias e comunidades americanas”, afirmou em pronunciamento após ser indicado. “Compartilho fortemente esse sentido de missão e estou comprometido a tomar decisões com objetividade e com base na melhor evidência disponível, na longa tradição de política monetária independente.”

É justamente a independência que testará seu mandato. Trump não é um presidente comum. Diatribes pelo Twitter ou declarações de efeito podem ter um efeito desastroso num momento de crise ou recessão. Para entender o significado da ameaça de manipulação política das taxas de juros americanas, basta tomar a trágica gestão de Alexandre Tombini no Banco Central do Brasil e imaginá-la com efeitos planetários.

Felizmente, o temperamento de Powell e a lei americana lhe trazem maturidade e autonomia para manter-se resguardado dos rompantes de Trump. Seu desafio é inédito. Se tiver de enfrentar uma recessão e os juros ainda estiverem baixos demais, estará sem sua principal arma de combate (o corte de juro). Até lá, precisará elevá-los de modo suave, como Yellen vinha fazendo. A incógnita, que nem ele nem ninguém pode saber, é quando a economia fraquejará ou quando as bolsas derreterão.

Fonte G1

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