Estamos apenas no quarto mês do ano e é incalculável a quantidade de treinadores que perdeu o emprego no futebol brasileiro. Alguém seria capaz de arriscar um número? Eu mesmo não faço ideia, mas tenho a certeza de que foram muitos, muitos de verdade. No Campeonato Sergipano, dos 9 participantes, apenas Lagarto e Itabaiana não trocaram de comandante. Alguns fizeram a substituição mais de uma vez. É aquela já desgastada receita: se as coisas não estão funcionando, é mais fácil demitir o técnico, é a resposta mais prática para dar ao torcedor. Às vezes, até funciona, mas em tantas outras o problema persiste, aí vem mais uma queda de ‘professor’, e outra, e outra…
O Campeonato Sergipano de 2019 trouxe uma grande lição para os dirigentes que têm por hábito ‘fritar’ treinadores. São exemplos diferentes nos três principais clubes do estado que provam que a solução para os problemas não pode se resumir na simples troca de comando técnico.
Sergipe
O Sergipe foi o que mais apostou na troca de treinadores para tentar engrenar na temporada. Foram três ao todo, sem contar o interino George Litiere, que assumiu o elenco em duas ocasiões. O ano começou com Luizinho Vieira, que não resistiu aos maus resultados no princípio e foi demitido. Edmilson Silva foi contratado para ser a solução, mas teve rendimento ainda pior. Com cinco derrotas, deixou o comando colorado. Veio então Leandro Campos e as coisas não melhoraram.
O saldo negativo foi com eliminações precoces no Campeonato Sergipano, na Copa do Brasil e na Copa do Nordeste, ou seja, um primeiro semestre inteiro jogado no lixo. Na verdade, trocando de treinador constantemente, a diretoria evitou encarar de frente o verdadeiro problema, que foi o elenco mal montado, que limitou bastante o trabalho de quem passou pelo clube.
Leandro Campos foi o terceiro treinador do Sergipe no ano —
Confiança
No Sabino Ribeiro, Betinho começou 2019 como treinador. Um comandante com histórico vitorioso e que, no ano anterior, ajudou o time a escapar do rebaixamento na Série C. A temporada iniciou de forma proveitosa, com vitória no clássico diante do maior rival. Os resultados positivos foram aparecendo e o Dragão viveu um momento especial, quando liderava o Campeonato Sergipano e estava no G4 da Copa do Nordeste. Porém, alguns resultados ruins, aqueles que podem ser considerados como ‘acidente de percurso’, foram suficientes para fazer com que o treinador perdesse o emprego. A gota d’água foi ter deixado escapar o título simbólico da primeira fase na última rodada.
A diretoria azulina demitiu Betinho mais por pressão da torcida do que por convicção. Trouxe o jovem Daniel Paulista para substituí-lo. O time não evoluiu e acabou sendo eliminado na primeira fase da Copa do Nordeste e perdendo a vaga na final do Campeonato Sergipano. Será que o problema estava mesmo no comando técnico? E pasmem, Betinho foi contratado pelo Frei Paulistano, time modesto, para a disputa do hexagonal, e levou o Touro para a grande decisão, contrariando todos os prognósticos. Ele, inclusive, está com chances reais de conquistar o título.
Betinho levou o Frei Paulistano para a final contra o Itabaiana —
Itabaiana
O exemplo tricolor talvez seja o mais emblemático de todos, pois contraria a lógica discutida neste texto. Luis Carlos Cruz faz sempre questão de ressaltar que a diretoria do Tremendão está promovendo algo inédito no futebol brasileiro, pois tem suportado toda a sorte de pressões para demitir o treinador. Mesmo assim, manteve-se firme na decisão de preservar o profissional. Cruz vem sendo muito questionado pela torcida e por quase toda a imprensa itabaianense.
Tomar a decisão de demiti-lo talvez seria o caminho mais fácil mesmo, pois o clube foi eliminado na primeira fase da Copa do Brasil sendo goleado e não vinha conseguindo os resultados no Campeonato Sergipano. Passou para o hexagonal no limite, ficou quase dois meses sem vencer. Contudo, conseguiu uma arrancada nas rodadas finais e chegou à decisão, com chances de conquistar o título, promover uma grande reviravolta. Dirigentes do clube dizem que avaliam o trabalho do dia a dia, no rendimento, e não estão pautados no resultadismo.
Luis Carlos Cruz, técnico do Itabaiana —
Sei que pouca coisa (ou nada) vai mudar no futebol brasileiro. Continuaremos com essa cultura de demitir treinadores após três resultados ruins, não tem jeito, é o caminho que não requer grandes esforços. Mas que fique ao menos a reflexão de que nem sempre o caminho mais fácil é o correto a seguir.