A Polícia do Rio de Janeiro prendeu três homens que espancaram até a morte o jovem congolês Moïse Mugenyi.
O primeiro a ser preso foi Fábio Silva, conhecido como ‘Belo’. Ele é vendedor de caipirinha na praia.
Fábio disse à polícia que Moïse Mugenyi chegou ao quiosque completamente alterado. Que estava com fome e queria beber cerveja e não tinha dinheiro para pagar, mas como trabalhava no quiosque, tinha o direito de comer e beber.
O outro preso é Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca. Foi o homem que espancou Moïse quando ele estava imobilizado no chão. No depoimento, Aleson disse que trabalha no quiosque Biruta, onde Moïse passou a trabalhar há três semanas depois de sair do Tropicália.
Disse também que decidiu agredir Moïse porque ele estava perturbando há alguns dias, que estava extremamente alcoolizado e que resolveu extravasar raiva. No depoimento, reconhece ter exagerado nas agressões, mas afirma não ter tido intenção de matar Moïse.
Brendon Alexander Luz da Silva, o ‘Totta’ foi o terceiro agressor preso. Ele deu um ‘mata-leão’ e amarrou Moïse.
No depoimento, ele diz que trabalha numa barraca de praia, que pertence a um policial militar e a irmã dele. Afirma que decidiu imobilizar Moïse para que ele parasse de oferecer risco a sua integridade. E que, quando Moïse parou de resistir, decidiu amarrá-lo com medo que ele o perseguisse. Quando percebeu que Moïse não estava respirando, tentou reanimá-lo.
Disse que Belo, um dos presos, chamou uma ambulância e ele foi embora, e só soube que Moïse tinha morrido no dia seguinte.
No pedido de prisão temporária feito na última terça-feira, 01, pelo Ministério Público, a promotora de Justiça Bianca Chagas afirma que as imagens ‘comprovam toda a ação delituosa em seu mais alto grau de desprezo pela vida’.
Os três vão responder por homicídio duplamente qualificado, por meio cruel e sem chance de defesa da vítima. No fim da última quarta-feira, 02, eles foram transferidos para o presídio.
Na terça-feira, o dono do quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), onde a agressão aconteceu, também prestou depoimento à polícia
Carlos Fábio da Silva Muzi disse que conhecia Moïse desde 2019. Que ele costumava aparecer por lá na alta temporada para fazer bicos e que nunca tinha arrumado confusão com outros funcionários ou clientes na praia.
O dono do quiosque contou à polícia que, no dia 19 de janeiro, cinco dias antes do crime, dispensou Moïse porque ele estava embriagado, mas pagou a comissão a ele. E que as 8h30 da noite de 24 de janeiro, antes de ir embora, viu Moïse alcoolizado e o aconselhou a ir pra casa.
O dono do quiosque contou que pouco depois das 11h da noite recebeu um telefonema de um funcionário de uma barraca dizendo que Moïse tinha apanhado e que achava que ele estava morto. E que, em seguida, recebeu uma mensagem de áudio de Belo – um dos agressores – contando o que aconteceu e perguntando se as câmeras do quiosque estavam gravando. O dono disse que desconfiou, respondeu que não e o rapaz pareceu aliviado.
Uma hora depois, ele foi ao quiosque, mas disse que o corpo de Moïse já não estava lá. O dono do quiosque disse que entregou as imagens das câmeras de segurança à polícia.
“Moïse não era uma pessoa aleatória, bêbada que estava naquele local como estão tentando construir na imagem dele. Moïse era trabalhador, estava indo trabalhar e estava buscando pela remuneração do seu trabalho”, afirma Rodrigo Mondego, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ.
A morte brutal de Moïse Mugenyi numa praia carioca repercutiu pelo mundo. O jornal americano Washington Post publicou que a selvageria da agressão deixou os brasileiros chocados. O francês Le Figaro disse que o assassinato do jovem causou uma onda de indignação. A BBC destacou a prisão dos três homens.